Redução de recursos coloca em risco operações e projetos estratégicos, enquanto responsabilidades da Força aumentam
O orçamento da Marinha do Brasil, responsável por missões essenciais como fiscalização de fronteiras marítimas, combate ao tráfico e proteção de áreas estratégicas, sofreu uma redução de 60% nos últimos dez anos. Em valores corrigidos pela inflação, os recursos caíram de R$ 7 bilhões em 2015 para cerca de R$ 3 bilhões em 2025. O cenário preocupa militares, que alertam para o risco de colapso operacional diante do aumento das responsabilidades da Força.
Enquanto o orçamento encolhe, as atribuições da Marinha se expandiram significativamente. Em março deste ano, o Brasil obteve uma importante vitória diplomática ao ter aprovada pela ONU a ampliação de sua plataforma continental, somando 360 mil km² ao território marítimo nacional — área equivalente à Alemanha. Com isso, a chamada “Amazônia Azul”, região rica em biodiversidade e recursos energéticos, passou a exigir maior presença militar para combater ameaças como pesca ilegal, espionagem e tráfico internacional.
Projetos estratégicos em risco
Um dos principais afetados pelos cortes é o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), projeto que visa modernizar o monitoramento marítimo com radares, inteligência artificial e análise de dados. A primeira base do sistema, em Ilha Grande (RJ), só deve ser concluída em 2025, enquanto a segunda, no Farol de Cabo Frio, ainda aguarda liberação de recursos.
A frota naval também sofre com a falta de investimentos. Sem reforço orçamentário, a Marinha estima que pode perder 40% de seus navios até 2028, além de enfrentar dificuldades na manutenção de aeronaves e equipamentos.
Resposta do governo
Questionado sobre os cortes, o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) afirmou que os contingenciamentos seguem as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal e do Regime Fiscal Sustentável, visando equilibrar as contas públicas. Em nota, o órgão destacou que qualquer pedido de aumento de verba depende de análise da Junta de Execução Orçamentária, considerando o atual cenário de restrições financeiras.
Enquanto isso, especialistas alertam que a falta de investimento na Marinha pode comprometer não apenas a segurança nacional, mas também a capacidade do Brasil de proteger seus recursos estratégicos no Atlântico Sul.