Estudo da Oxfam revela sistema regressivo que penaliza mulheres negras e compromete crescimento econômico; especialistas defendem reforma com taxação maior sobre grandes rendas
Enquanto o 0,15% mais rico da população brasileira acumula R$ 1,1 trilhão em renda (equivalente a 14,1% do total nacional), os 10% mais pobres destinam 32% de seus ganhos ao pagamento de impostos – três vezes mais que os super-ricos, que comprometem apenas 10%. Os dados, divulgados nesta quinta-feira (10) pela Oxfam Brasil, expõem as distorções de um sistema tributário que sobrecarrega o consumo e aprofunda desigualdades históricas, com impactos diretos em Goiás.
Quem paga a conta?
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81% dos super-ricos são homens brancos; apenas 20% são negros ou pardos
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Mulheres negras lideram 65% dos lares mais pobres e são as mais afetadas
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Tributação sobre consumo (como ICMS e PIS/Cofins) representa 53% da carga total, contra 20% em países desenvolvidos
“O pobre paga imposto até no arroz e feijão, enquanto dividendos e grandes fortunas quase não são taxados”, critica o economista Everaldo Leite. Ele explica que, enquanto os mais ricos poupam ou investem parte da renda, os mais pobres gastam quase tudo em sobrevivência: “Taxar consumo é estrangular a economia, pois reduz o poder de compra de quem mais movimenta o mercado”.
Mulheres negras: o elo mais frágil
Para a socióloga Andreia Vettorassi, a estrutura atual perpetua ciclos de exclusão: “Além de receberem os menores salários, mulheres negras enfrentam jornadas triplas e têm menos acesso a educação. O sistema as penaliza duas vezes: pela cor e pelo gênero”. O estudo mostra que:
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Itens básicos (energia, gás, transporte) consomem até 40% da renda dos pobres
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Trabalho doméstico não remunerado, majoritariamente feminino, não é reconhecido na economia
Caminhos para mudança
Especialistas defendem:
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Redução de impostos sobre consumo básico
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Aumento da taxação sobre renda alta, dividendos e grandes patrimônios
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Fim progressivo de incentivos fiscais a setores já consolidados
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Políticas afirmativas com recorte de gênero e raça
“Goiás poderia liderar um modelo tributário alinhado ao agronegócio e biocombustíveis, sem depender de benefícios eternos a multinacionais”, sugere Leite. Já Vettorassi reforça: “Justiça tributária exige reparação histórica. Não é caridade, é devolver o que foi negado por séculos”.