Neste 7 de setembro, enquanto muitos desfilavam com bandeiras verde-amarelas, um grupo de aproximadamente 20 famílias decidiu dar seu próprio – e bastante literal – grito por independência. A meta: um prédio no Setor Oeste da capital, que, segundo seus novos “inquilinos”, estava abandonado há sete anos. A ação, batizada romanticamente de “Ocupação Pedro Nascimento”, é a estreia do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) em Goiás.
A justificativa do movimento é um clássico do repertório de lutas sociais: o prédio estaria ocioso em um país com mais de 8 milhões de famílias sem teto. Um contraste que, de fato, é um escândalo nacional. A solução proposta, no entanto, é sempre a mesma: a apropriação direta. O MLB não poupa críticas nem ao próprio Minha Casa Minha Vida, acusando-o de construir guetos de baixa qualidade para não atrapalhar o lucro das construtoras. A solução ideal, defendem, é um modelo onde o Estado banca o projeto e as famílias botam a mão na massa – literalmente.
Mas eis que surge um detalhe inconveniente para a narrativa da “ocupação de um imóvel abandonado”: os proprietários. Em uma nota seca, eles desmontam a premissa central do protesto. O prédio, afirmam, não é público, não estava abandonado e sequer era um símbolo da especulação imobiliária ociosa. Alegam que ele foi alugado para a Universidade Estadual de Goiás (UEG) até recentemente e que todos os impostos estão em dia. O destino do local, segundo eles, seria uma torre residencial – ironicamente, mais moradias.
A cena, portanto, fica assim: de um lado, um movimento que luta por uma causa justa usando um método questionável, baseado em uma premissa contestada. Do outro, proprietários que exercem o direito de, bem, serem proprietários. E no centro, o Estado, tendo que gastar recursos públicos para mediar um conflito entre quem não tem casa e quem tem, mas não quer abrir mão dela sem uma ordem judicial.
Em ação rápida na manhã deste domingo (7), a Polícia Militar cumpriu mandado e realizou a reintegração de posse do prédio invadido no Setor Oeste. Os invasores foram retirados do local e o imóvel foi devolvido aos seus proprietários legais. De acordo com a PM, houve resistência à ordem judicial, resultando na prisão de algumas pessoas por desacato.
Políticos como o vereador Fabricio Rosa e o deputado estadual Mauro Rubem (PT) estavam no local, mas a operação foi executada independentemente de suas intervenções.