31 de outubro de 2025
Clima

Calor Pode Ser Responsável por Mais do Dobro de Mortes na América Latina em 20 Anos, Aponta Estudo

Pesquisa com dados de nove países, incluindo o Brasil, alerta que idosos e populações mais vulneráveis são os mais afetados; implementação de políticas de adaptação é urgente para mitigar mortes.

O calor, uma ameaça silenciosa e crescente, é atualmente responsável por aproximadamente uma a cada 100 mortes na América Latina. No entanto, esse impacto pode mais do que dobrar nas próximas duas décadas. A projeção é de um estudo internacional que analisou dados de 326 cidades da região, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, México, Panamá e Peru.

Atualmente estimadas em 0,87% do total de óbitos, as mortes atribuíveis ao calor podem saltar para 2,06% entre os anos de 2045 e 2054. O cenário considera o ritmo normal de envelhecimento da população e um aquecimento global moderado, com aumento de temperatura entre 1°C e 3°C.

Populações em Risco e Impacto na Saúde

De acordo com o professor Nelson Gouveia, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e um dos autores da pesquisa, os idosos e a população mais pobre são os que mais sofrem com as consequências do calor extremo.

“Quem vive em áreas periféricas, em moradias precárias e sem acesso a ar-condicionado ou a espaços verdes terá mais dificuldade para enfrentar ondas de calor cada vez mais intensas. As mortes são apenas a ponta do iceberg. O calor extremo aumenta o risco de infartos, insuficiência cardíaca e outras complicações, especialmente em pessoas com doenças crônicas”, explicou Gouveia.

No Brasil, a pesquisa utilizou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do DataSUS e do Censo Demográfico do IBGE. O estudo destaca que o aumento da população acima de 65 anos na década analisada é um fator decisivo para o crescimento da mortalidade, por se tratar do grupo mais vulnerável.

Caminhos para a Adaptação e Mitigação

Apesar do cenário preocupante, os pesquisadores são enfáticos ao afirmar que uma parte considerável dessas mortes pode ser evitada. A chave está na construção e aplicação imediata de políticas de adaptação climática voltadas para as populações vulneráveis.

Entre as medidas apontadas como eficazes estão:

  • A implementação de planos de ação para períodos de calor intenso.

  • A criação e expansão de áreas verdes e corredores de ventilação urbana para reduzir as “ilhas de calor”.

  • A adoção de sistemas de alerta precoce, com comunicação clara e acessível.

  • A educação comunitária sobre os riscos das altas temperaturas.

  • A instituição de protocolos de saúde pública para atendimento prioritário a idosos e pessoas com doenças crônicas, seguindo exemplos já adotados, como no Rio de Janeiro.

Sobre o Estudo

A análise faz parte do projeto Mudanças Climáticas e Saúde Urbana na América Latina (Salurbal-Clima), que reúne pesquisadores de instituições de nove países latino-americanos e dos Estados Unidos. Com duração de cinco anos (2023-2028), o projeto busca gerar evidências sobre a relação entre as mudanças climáticas e os impactos na saúde na região.

O estudo completo foi publicado na revista científica Environment International.

O estudo completo está disponível na revista eletrônica Environment International (clique aqui).

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