6 de dezembro de 2025
Goiânia

MARGINAL BOTA-ÁGUA: Goiânia, a cidade perdida? (Parte 2)

Imagem reprodução

A Marginal Botafogo, que deveria ter o nome rebatizado para “Botaágua”, não é mais uma via segura nem mesmo com céu de brigadeiro e deveria ser totalmente interditada, por tempo indeterminado, até que seja feito um estudo técnico elaborado de engenharia civil para saber se essas chuvas de setembro e janeiro comprometeram as estruturas de canalização do córrego. Também porque a ponte da Avenida Universitária sobre a Marginal Botafogo apresenta armaduras de pilares rompidas e corrosão generalizada pelo tempo.
A interdição poderia servir como uma pausa estratégica para refletirmos por que o projeto original de Attílio Côrrea Lima, que previa a preservação de um cinturão verde em toda a extensão do córrego (modelo de Parque Linear), e não somente no trecho do Parque Botafogo, que, inclusive, foi abandonado até mesmo pelo destacamento da Guarda Municipal que havia ali até pouco tempo. O sonho de Attílio ficou comprometido pelas grilagens, invasões e doações de terras públicas ao longo do córrego, e pela construção da marginal, por meio de uma urbanização sem planejamento urbano sustentável, permeabilizando e canalizando, em grande medida, o rio mais importante da história da cidade.
Ao invés disso, o prefeito Mabel fica satisfeito com uma solução paliativa. A notícia de aquisição de um radar meteorológico de última geração tem sido comemorada pelo atual prefeito de Goiânia. O equipamento, mesmo que não elimine os infortúnios climáticos e ambientais, de fato, permite à gestão pública ter um grau de previsibilidade pluvimétrica de monitoramento contínuo sobre regiões da cidade em que chuvas serão mais intensas. Esse sistema pode permitir que os Agentes de Trânsito interrompam a circulação de carros em vias comprometidas pelas enchentes, e os da Defesa Civil, emitir sinais de alertas para pessoas nas áreas de maior risco de alagamento e deslizamento.
Esse sistema de previsão mais preciso pode, assim, reduzir riscos em todas as localidades públicas e privadas, sujeitas a possíveis desastres e seus impactos causados por risco iminente de alagamentos, enxurradas, deslizamentos de terra, vendavais, chuvas de granizo, terremotos, maremotos e furacões. Mas é importante haver uma interface precisa desses dados meteorológicos com a ferramenta federal “Defesa Civil Alerta”, que, em interface com as defesas civis dos estados e municípios, permita disparar conteúdos e alertas, avisando e orientando as pessoas sobre os quefazeres em situação de risco. Trata-se de tecnologia de transmissão via telefonia celular, coordenada pela Defesa Civil Nacional e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e executada pelas prestadoras de telefonia móvel (Algar, Claro, Tim e Vivo), que permite complementar as outras ferramentas de alertas de emergência disponíveis para prevenção de riscos e mitigação de danos.
A antecipação de chuvas fortes pode diminuir os prejuízos urbanos e sociais, de forma limitada, já que o problema das enchentes e alagamentos do espaço urbano demandará obras estruturais que só poderão ser definidas com mais assertividade após a conclusão do Plano Piloto de Drenagem Urbana pela UFG. O radar é, nesse sentido, um plano emergencial preventivo de curto prazo importante, que pode salvar vidas, o que sempre deve ser prioridade. Para além da questão infraestrutural, a tendência de permeabilização do solo segue institucionalizada como política pública urbana, o que só será revertido, a partir da implantação de um modelo de “cidade espongiária”.
O arquiteto e paisagista chinês, Kongjian Yu, que morreu nesse desastre de avião em Mato Grosso do Sul, ficou famoso no star system da arquitetura por defender que as cidades deveriam se espelhar na natureza para escoar o excesso de fluxo da água, valendo-se, para isso, de soluções como jardins de chuvas e parques alagáveis, telhados verdes, áreas calçadas porosas, que permitiriam reter, limpar e infiltrar a água da chuva. As mudanças climáticas estão mostrando que vieram para ficar, então temos que pensar em cidades como meio ambiente urbano, capazes de mediar o ambiente construído com o natural.

Fred Le Blue Assis, idealizador do GYN 2030, doutor em Planejamento Urbano

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