O governo Lula precisa agir para conter a alta dos preços dos alimentos. No entanto, as medidas realmente eficazes têm impacto de médio a longo prazo, o que significa que os resultados podem não ser recolhidos ainda neste mandato.
Essa é a avaliação de André Braz, coordenador de Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV) e um dos principais especialistas em inflação do país.
“O problema é urgente, mas a alta dos preços dos alimentos não começou agora”, destaca Braz. Desde 2020, a inflação acumulada dos alimentos chegou a 55%, enquanto a inflação geral foi de 35% no mesmo período — uma diferença expressiva.
O economista alerta que há risco de a inflação dos alimentos continuar acima da inflação média também em 2025, apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores do mundo.
Medidas em discussão e desafios
O governo tem soluções possíveis, como a redução de juros para produtores rurais e o controle de tarifas de importação. Porém, Braz enfatiza que medidas como taxar exportações ou alterar o vale-refeição não resolverão o problema estrutural.
Para ele, a solução passa por investimentos em infraestrutura e logística. “Precisamos baratear o custo do transporte, apostando em modais mais econômicos, como a cabotagem e o transporte fluvial”, explica.
Outro ponto crucial é a redução do desperdício de alimentos. “O Brasil bate recordes de produção, mas também de desperdício, por falta de infraestrutura adequada para armazenamento”, diz Braz.
Além disso, ele defende maior apoio ao pequeno produtor rural, essencial para a produção de alimentos como o feijão. “Não basta oferecer crédito, é preciso capacitação técnica e acesso a tecnologia para aumentar a produtividade”, afirma.
Fatores que pressionaram os preços dos alimentos
Os preços dos alimentos estão subidos desde a pandemia, impulsionados por fatores como:
- 2020: Pandemia e aumento da demanda com o auxílio emergencial.
- 2021: Crise hídrica afetando a agricultura e a energia.
- 2022: Guerra entre Rússia e Ucrânia elevando os preços das commodities.
- 2023: Alívio momentâneo com safra recorde e condições climáticas climáticas.
- 2024: Desvalorização do real, alta das exportações, aquecimento do mercado de trabalho e eventos climáticos extremos.
O cenário de 2025 ainda é incerto. Uma previsão de uma safra 10% maior pode ajudar a conter os preços, mas itens como carne e café devem seguir caros devido a ciclos produtivos mais longos.
O papel da política fiscal
Braz reforça que, além de medidas estruturais, o governo precisa equilibrar a política fiscal. “Se o Estado gasta mais, ele mantém a inflação elevada”, explica.
Ele também alerta que os juros altos, isoladamente, não resolvem uma inflação impulsionada pelo preço dos alimentos, especialmente quando a oferta está comprometida.
“A inflação dos alimentos afeta principalmente as famílias de menor renda. Precisamos de uma abordagem integrada, que vá além da política controlada e contemple investimentos estratégicos de longo prazo”, conclui Braz.