3 de outubro de 2025
Artigo

A DESGRAMADA GRAMA DO MABEL: a desambientalização da cidade com uso de vegetação sintética nos canteiros urbanos

Foto: Wildes Barbosa.

A grama sintética implantada, à guisa de teste controlado, na Agrovia Castelo Branco, em Goiânia, por mais que possa ser defendida por ser mais resistente, mantendo o mesmo padrão paisagístico padrão, mesmo em tempos de estiagem, demonstra uma visão, aparentemente, pragmática, porque tacanha.

Primeiro ponto é que as pessoas não veem com estranhamento a sequidão do estio, porque a passagem do tempo, expressa através das quatro estações, na verdade, é um processo “natural” pelo qual internalizamos os ciclos da natureza. Nesse sentido, é importante manter a grama orgânica, porque ela é símbolo metonímico do meio ambiente como um todo. O tratamento que se dá ao ente natural grama, enquanto microcosmo ecossistêmico, revela o que costumamos fazer com o meio ambiente na sua escala macro.

Outro aspecto relevante contrário ao uso da grama é que, para muitos especialistas, a drenagem urbana fica comprometida quando não há essas áreas verdes nas cidades. Mesmo que a grama sintética com furos possa drenar um pouco de água, ela tende a encharcar com uma espécie de tapete. A grama com raízes na terra tende a facilitar a infiltração da água no solo.
Por mais que essa questão da baixa necessidade de manutenção da grama sintética seja, aparentemente, uma estratégia de economicidade, a utilização da grama sintética tem um gasto para implementar mais alto.

Por mais que Mabel reclame que seja um transtorno interromper trechos de avenida e haja um custo elevado à roçagem de gramas 18 vezes ao ano, ele parece não confiar na capacidade da COMURG, entidade que ele prometeu sanear, de realizar um dos poucos serviços que ela justifica a sua existência em Goiânia, depois que o ineficaz consórcio Limpa Gyn começou a realizar a limpeza urbana.

Com roçadeiras costais e tratores, para cuidar de áreas gramadas, ilhas de avenidas e outros espaços públicos, como praças e canteiros, os serviços de roçagem da Comurg são contínuos e variam conforme a demanda e o tipo de área. Como ponto negativo, só há o quantitativo ínfimo da equipe, e o fato de que os funcionários da companhia, para render o trabalho, costumam trabalhar até de noite nos sábados, por exemplo, em bairros como Setor Sul, devido à grande quantidade de grama alta, sem respeitar o direito ao repouso por parte dos moradores.

Parece positiva, no entanto, a promessa do prefeito de utilização da grama sintética em áreas de verde urbanizado em que a grama realmente não floresça, como na penumbra de árvores grandes do Parque Vaca Brava, que por falta de grama, obriga os picnics a serem realizados no sol. Porém, ao trocar a orgânica pela sintética como um projeto de cidade, efetua-se uma desambientalização da natureza no meio ambiente urbano.

Tal tendência aponta também para uma perspectiva de cidade privatizante em que a estética do shopping, com as suas plantas e flores de plástico, começa a ganhar as ruas. Estamos nos acostumando a ver plantas ornamentais artificiais em shoppings, clínicas, residências de alto padrão. É um pequeno passo para uma grande tragédia futura que já está em curso: a narrativa estadual das privatizações de parques e das cobranças de taxas para uso recreativo também de áreas verdes, por parte da atual gestão.

A desnaturalização da natureza está sendo naturalizada, justamente, em Goiânia, que é uma capital ecologicamente correta, por mais que nos esforcemos, enquanto sociedade, para perdermos esse título, após tantas grilagens, doações e desafetações de terrenos públicos em áreas verdes.

O contato onipresente com a natureza colabora também com a consciência e educação ambiental. Cada árvore e trecho de grama é um aliado na defesa do espaço verde na cidade cinza. Então, o debate sobre o diminuto, no caso a grama, que é o menor ser verde da cidade, é simbólico do sentido de urbanidade ambiental que queremos defender. A natureza nos mostra que não existe hierarquia entre o micro e o macro, mas sim sinergia quântica entre todos os entes.

Em todo caso, há perspectivas mais interessantes de uso dessa grama sintética que já havia sido comprada pela gestão anterior, que seria a de implantar esse recurso nos campos de várzeas, de terra batida, onde temos um problema de poeira excessiva que compromete os comércios, por exemplo, no Jardim Itaipu. Nesse bairro, é recorrente a reclamação da população sobre a terra do campo que acaba poluindo ali a região com pó.

Numa perspectiva de Estado, cabe ao Mabel aperfeiçoar um dos poucos legados do Rogério Cruz, que é o plano de drenagem urbana e o projeto Arboriza Gyn, que plantou 90 mil mudas em Goiânia. É preciso aprimorar as ideias salutares iniciadas, ao invés de retroagir com práticas urbanas, ambientais e sanitárias nocivas ao senso de pertencimento e estado da urbanidade local.

Dr. Fred Le Blue Assis (doutor em planejamento urbano PELO IPPUR UFRJ, idealizador do Grupo Goiânia 2030)

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