5 de maio de 2025
Economia

Amento no preço da energia por setor elétrico enfrentar crise de chuvas

Nos últimos dias, os preços de energia no mercado livre registraram um aumento significativo, impulsionado pela previsão de chuvas abaixo da média em diversas regiões do Brasil. Esse cenário tem reduzido o otimismo em relação às condições hidrológicas e, caso persista, poderá impactar as tarifas cobradas dos consumidores.

O aumento ocorre em um momento de preocupação com a inflação, já que a energia elétrica foi um dos principais fatores que impulsionaram a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em fevereiro. O índice fechou o mês em 1,31%, com a eletricidade registrando alta de 16,8%.

A menor expectativa de chuvas afetou diretamente a média semanal do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD). No Sul, o preço subiu quase seis vezes, de R$ 58,6 por megawatt-hora (MWh) no início do ano para R$ 343,24 na semana encerrada em 14 de março. No Sudeste/Centro-Oeste, o valor quintuplicou, passando de R$ 58,6 para R$ 335,55. Já no Norte e Nordeste, os preços seguem próximos aos patamares mínimos do ano.

O PLD influencia as negociações de curto prazo entre grandes consumidores e fornecedoras de energia. Se a alta persistir, pode haver reflexo nas tarifas de energia elétrica. O PLD também é um indicador essencial para a definição da bandeira tarifária, estabelecida mensalmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em setembro de 2024, por exemplo, quando o PLD no Sudeste ultrapassou R$ 251 por MWh, foi aplicada a bandeira vermelha patamar 1, o segundo nível mais alto da escala.

A expectativa de menos chuvas pressiona o custo de geração de energia, elevando o PLD. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgou um relatório indicando previsões de afluências abaixo da média histórica nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Nordeste para março.

O diretor de Energia Elétrica da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Victor Iocca, destacou que o PLD passou a adotar uma nova metodologia que antecipa cenários mais críticos. “Infelizmente, as chuvas estão muito abaixo das médias históricas. Mesmo com reservatórios em boas condições, o modelo se tornou mais conservador, o que faz com que o preço suba rapidamente quando há pouca chuva”, explicou.

Segundo Iocca, o aumento do PLD encarece a operação, especialmente com o acionamento de termelétricas. “Ligar o parque termelétrico antecipadamente pode ser mais eficiente do que esperar uma piora do cenário”, acrescentou.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), composto por representantes do Ministério de Minas e Energia, da Aneel e outros órgãos, indicou que, no melhor cenário, março de 2025 será o 13º pior mês de março em termos de condições de afluência. No pior cenário, será o 3º pior. Além disso, há previsão de queda na energia natural afluente em três das quatro regiões do país até abril de 2025.

Em nota, o CMSE afirmou que continuará monitorando as condições do setor elétrico e adotará medidas para garantir o abastecimento de energia no país.

O analista de energia do Itaú BBA, Marcelo Sá, ressaltou que as chuvas em março estão abaixo da média em todas as regiões, com exceção do Norte, onde os reservatórios seguem cheios, especialmente na região do Xingu. Sá também lembrou que a demanda por energia deve crescer 3,5% em 2025 em relação ao ano anterior. “As projeções para os níveis dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) se deterioraram em cerca de 10 pontos percentuais”, afirmou.

O diretor de operação do ONS, Christiano Vieira, havia dito há dois meses que o quadro para 2025 seria positivo caso as chuvas se estendessem até abril. Na época, ele destacou que as condições de geração eram favoráveis, mas não descartava revisões no cenário. “Isso é acompanhado mês a mês, e devemos estar preparados para situações críticas”, alertou.

Apesar das preocupações, o início de 2025 foi marcado por chuvas intensas nas regiões dos reservatórios. Segundo o ONS e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o Sistema Interligado Nacional opera atualmente com um armazenamento de 70% da capacidade total. No entanto, projeções meteorológicas indicam que março pode ter afluências inferiores a 60% da média histórica nas usinas do Sudeste/Centro-Oeste. “Diante desse cenário, os modelos computacionais buscam preservar os reservatórios, o que impacta os preços”, informaram os órgãos.

O impacto da variação nos custos de energia tem sido uma preocupação constante do governo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já havia solicitado à Aneel, no ano passado, a manutenção da bandeira tarifária verde para evitar cobranças extras e reduzir impactos inflacionários. Neste ano, o governo estuda medidas adicionais, como o uso de recursos da Itaipu Binacional e a criação de uma conta de reserva para amortecer os aumentos tarifários.

 

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