Em Movimento Ousado Para Proteger Brasileiros de Si Mesmos, Agência Propõe “CNH Digital”. Preparem os Pontos e a Paciência.
Em um espetáculo de inovação burocrática que deixaria qualquer regime autoritário corando de inveja, a Anatel presenteou o país com uma ideia simplesmente brilhante. Perdidos em um mar de problemas reais como infraestrutura precária, franquias abusivas e áreas sem sinal, os luminares da agência, encarnados na figura de um certo Ozzy, tiveram um estalo: o que o Brasil precisa, claramente, é de uma Carteira Nacional de Habilitação para usar a internet.
A proposta, apresentada como “palestra provocativa” (leia-se: balão de ensaio para ver se o público engole), é um verdadeiro salmão de criatividade estatal. A lógica é impecável: para proteger os “consumidores vulneráveis” (como crianças e idosos que, até então, sobreviviam milagrosamente sem um certificado governamental para enviar memes no grupo da família), novos usuários de smartphones terão que fazer cursos de segurança digital. O prêmio? A tal “CNH Digital” e, pasmem, descontos em planos! Porque nada diz “liberdade digital” como ter que fazer uma prova para obter um benefício que já é seu por direito.
Mas a genialidade não para por aí. Especialistas em futurologia distópica já vislumbram o próximo passo natural: um sistema de pontuação e multas. Chamou um influenciador de “Rocambole do Inferno”? -50 pontos na sua habilitação. Compartilhou fake news? Multa e suspensão do direito de postar #tbt. A solução perfeita para a violência online, onde o Estado, com a eficiência de sempre, fiscalizará cada like e comentário. É o “crédito social” tropical, uma jabuticaba tecnoburocrática que só poderia germinar em terras tupiniquins.
Críticos da medida, evidentemente, são uns chatos alarmistas. Eles ousam questionar que criminosos de verdade usarão VPNs e a deep web, enquanto cidadãos comuns terão mais uma taxa para pagar, mais um curso para fazer e mais pontos a perder. Eles não entendem a visão de futuro: um Brasil onde, finalmente, você precisará de uma licença emitida pelo governo para… respirar ar digital. A Anatel nega, é claro. Mas, no Bostil que não pode parar, é melhor ir treinando para a prova teórica sobre como não cair em golpes do “Pix de um amigo do primo”. A revolução será habilitada.
