O governo brasileiro está em estado de atenção diante dos possíveis efeitos colaterais do chamado “tarifaço” iniciado pelos Estados Unidos contra a China. Autoridades do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, monitoram com cautela o cenário, temendo um desvio de comércio que resulte em uma inundação de produtos chineses no mercado brasileiro.
O principal temor é que, diante das novas barreiras tarifárias impostas por Washington, uma fatia considerável das exportações chinesas originalmente destinadas ao mercado norte-americano seja redirecionada para o Brasil. Com isso, o país poderia enfrentar uma oferta excessiva de produtos importados — geralmente mais baratos — que competem diretamente com a produção nacional, agravando a já delicada situação da indústria brasileira.
“Há preocupações com o risco de desvio de comércio para o Brasil”, afirmou a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, durante seminário promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-China na quinta-feira (10). Segundo ela, o cenário externo é altamente volátil. “As mudanças acontecem não é todo dia, é a todo momento. Às vezes é difícil estarmos a par da última evolução. O vice-presidente falou ‘estamos monitorando mudanças significativas, atípicas nos fluxos de comércio’. Estamos fazendo isso”, declarou.
Apesar da preocupação, o governo evita qualquer posicionamento precipitado. A ordem no MDIC é acompanhar de perto os desdobramentos internacionais antes de adotar medidas mais concretas. “Se essas mudanças de tarifas podem gerar oportunidade para o Brasil? Podem [também]”, ponderou Prazeres.
Na sexta-feira (11), Alckmin participou de uma reunião virtual com o ministro do Comércio da China, Wang Wentao. De acordo com nota divulgada pelo governo brasileiro, os dois discutiram a relação comercial bilateral e os impactos das novas tarifas no cenário global. “Convergiram na defesa do multilateralismo e do sistema internacional de comércio baseado em regras, com o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, diz o comunicado.
O Brasil tem estreitas relações comerciais com a China. Desde 1974, as importações brasileiras de bens chineses saltaram de US$ 2 milhões para US$ 64 bilhões, com foco em bens de capital e insumos industriais. As exportações brasileiras para o gigante asiático, por sua vez, passaram de US$ 19 milhões para US$ 94 bilhões, concentradas em commodities como soja, petróleo e minerais.
Em 2024, a China foi a principal origem das importações em 16 estados brasileiros, evidenciando o grau de dependência e integração entre as duas economias. Diante disso, qualquer alteração no fluxo global de comércio tem potencial de provocar efeitos diretos sobre o mercado nacional — e o governo sabe disso.
Por ora, o Brasil segue atento. A movimentação nos bastidores revela um esforço para proteger a indústria local sem comprometer a relação com seus principais parceiros comerciais. A dúvida que paira é: o país está preparado para lidar com essa possível avalanche de produtos estrangeiros?