3 de outubro de 2025
Goiânia

Chuvas intensas expõem crise de drenagem urbana e ampliam desafios para Goiânia

Foto: Divulgação/CBMGO

Especialistas apontam que modelo atual de canalização de córregos é insuficiente para eventos climáticos extremos; prefeitura reconhece problema e cita obras paralisadas por falta de repasse federal

GOIÂNIA, 24 de setembro de 2025 – O temporal que atingiu Goiânia na terça-feira (23) fez mais do que alagar vias e derrubar árvades. As fortes chuvas, que em algumas regiões depositaram o equivalente à previsão mensal em apenas 24 horas, escancararam um problema crônico da capital: um sistema de drenagem urbana defasado e incapaz de dar vazão a volumes de água cada vez mais intensos e concentrados.

Enquanto a população sofre com os alagamentos recorrentes em pontos conhecidos, como a Avenida 85 e a Rua 113, especialistas ouvidos pelo Hoje Goiás alertam que o modelo tradicional de canalização de córregos, adotado por décadas, está ultrapassado. O engenheiro civil e professor doutor em recursos hídricos, Anísio de Andrade, explica que a solução vai além de simplesmente aumentar o diâmetro de tubulações.

“A água da chuva precisa ser escoada, mas também precisa ser infiltrrada. Nós estamos impermeabilizando o solo, asfaltando, construindo, e a água não tem para onde ir. As soluções precisam ser pautadas na infraestrutura verde: parques lineares, vales de inundação, bacias de retenção. Só canalizar o córrego é empurrar o problema para jusante”, afirma o especialista.

O problema se agrava com a ocupação desordenada de áreas de preservação permanente (APPs) ao longo dos cursos d’água. O assoreamento e o descarte irregular de lixo em bocas de lobo completam o cenário que, segundo a Defesa Civil, se repete a cada nova tempestade.

Prefeitura reconhece deficiência e cita entraves

Em nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) reconheceu que o sistema de drenagem da capital “requer modernização e expansão para suportar os novos padrões de chuva”. A pasta citou que aguarda a liberação de recursos federais para a retomada de obras críticas, como a canalização do Córrego Botafogo, na região noroeste, e a execução de um grande piscinão no Setor Jardim América, projetos considerados essenciais para mitigar alagamentos nessas áreas.

Para o vereador Carlos Eduardo (PDT), a questão é também de manutenção preventiva. “É urgente um plano de desassoreamento contínuo dos córregos e uma campanha permanente de educação da população para não jogar lixo nas vias. Sem isso, qualquer obra fica comprometida”, defendeu.

Enquanto as soluções de longo prazo não saem do papel, a orientação para o cidadão segue sendo a cautela. Com o alerta amarelo de chuvas válido até esta quinta-feira (25), a Defesa Civil recomenda que a população consulte os mapas de pontos de alagamento e evite trajetos por áreas de risco durante e imediatamente após as tempestades.

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