Em uma emocionante demonstração de sensibilidade e timing impecável, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) presenteou os servidores estaduais com a validação definitiva de um projeto que autoriza a cobrança de mensalidades dos dependentes no Ipasgo Saúde, até então isentos. A sessão desta quinta-feira (11/12) foi um verdadeiro espetáculo de unanimidade… desde que se ignore os nove votos contrários e as veementes críticas.
A Secretaria da Economia, em um surto de criatividade contábil, descobriu uma forma mágica de equilibrar as contas: cobrar mais dos que usam o serviço. Eles chamam isso de “reforçar a justiça contributiva”. Os críticos, menos dados a eufemismos, chamam de “taxar a família do servidor”. Um detalhe de justiça: a cobrança considerará a faixa etária do dependente, porque é claro que a saúde de um filho mais velho custa mais caro para o sistema do que a de um mais novo – a ciência econômica do governo é fascinante.
A oposição, é claro, não entendeu a grandiosidade do momento. Mauro Rubem (PT) teve a audácia de chamar 90 mil dependentes de “pessoas”, sugerindo que o projeto “destrói” o Ipasgo. Bia de Lima (PT), dramaticamente, classificou a proposta como “a mais difícil do ano para os servidores”. Quanta falta de visão! Gustavo Sebba (PSDB) lembrou, saudosista, que o plano já foi referência antes da privatização, quando era bom e barato – um conceito claramente ultrapassado.
Do lado da base governista, a defesa foi um monumento à coerência. Amauri Ribeiro (UB) emergiu como o herói triste da narrativa, argumentando, com a frieza de um contador em dia ruim, que “ou nós aprovamos essa lei ou o Ipasgo vai sucumbir”. Uma escolha sofisticada: pagar mais ou ficar sem nada. Politicagem? Absolutamente não. Apenas dura e crua realidade, convenientemente apresentada “da noite para o dia”, como observou Clécio Alves (Republicanos), sem dados técnicos que atrapalhem a urgência.
O destaque da sessão ficou com Gugu Nader (Avante), que, em um ato de rebeldia digno de romance, ameaçou deixar a base governista. “Eu fiz o compromisso inegociável que eu nunca votaria contra servidores públicos”, disse, honrando sua palavra. Um gesto nobre, mas que, infelizmente, não soma votos suficientes contra os 25 favoráveis.
O projeto, um verdadeiro presente de final de ano, segue agora para a sanção do governador Ronaldo Caiado (UB). Resta saber se, na ceia de Natal, os 90 mil dependentes que entrarão na lista de cobrança agradecerão pelo “reforço da justiça contributiva” ou se simplesmente guardarão o dinheiro do peru para pagar o plano de saúde. O espírito do Natal, afinal, tem seu preço – e agora ele é 30% da tabela atuarial, limitado por teto familiar.
Confira a lista dos deputados que votaram a favor;
Amauri Ribeiro – UB
Amilton Filho – MDB
Anderson Teodoro – AVANTE
André do Premium – AVANTE
Bruno Peixoto UB
Cairo Salim – PSD
Charles Bento – MDB
Coronel Adailton – SD
Cristiano Galindo – SD
Dr Zeli – UB
Henrique César – PODE
Issy Quinan – MDB
Jamil Calife PP
Júlio Pina SD
Lincoln Tejota – UB
Lineu Olímpio – MDB
Lucas Calil – MDB
Ricardo Quirino – REP
Rosângela Rezende – AGIR
Rubens Marques – UB
Talles Barreto UB
Verter Martins UB
Virmondes Cruvinel – UB
Wagner Neto – SD
Wilde Cambão
Confira a lista dos deputados que votaram contra;
Antônio Gomide,
Bia de Lima e Mauro Rubem, do PT;
Delegado Eduardo Prado e Major Araújo, do PL;
Gustavo Sebba e José Machado, do PSDB;
Gugu Nader (Avante)
Clécio Alves (Republicanos).
