28 de abril de 2025
Religião

Dom Orani participa do conclave e traz consigo “profecia” de religiosa

Nascido em uma família humilde de nove irmãos em São José do Rio Pardo (SP), o adolescente Orani Tempesta chegou a hesitar em seguir a vida religiosa. A preocupação com os pais idosos o fazia questionar se deveria deixá-los para se dedicar ao sacerdócio. Mas foi o incentivo de uma professora e religiosa, Maria de Lourdes Benedita Nogueira Fontão, conhecida como Dona Lourdinha, que mudou seu destino.

Ela não apenas encorajou o jovem, mas prometeu cuidar de seus pais. “Minha mãe disse a ele: ‘Vá, e eu cuido deles. Prometo ir lá todo dia levar a comunhão’”, recorda Maria de Lourdes Fontão, filha de Dona Lourdinha e homônima da mãe. A professora chegou a prever, ainda antes de Orani se tornar padre, que ele um dia seria bispo — e até papa.

Hoje, Dom Orani Tempesta é cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, com direito a votar — e ser votado — no próximo conclave. Apesar de nunca ter cogitado ser eleito pontífice, sua trajetória mantém viva a memória de quem o apoiou desde o início.

Uma Amizade que Moldou uma Vocação

A família de Dona Lourdinha, falecida em um acidente de carro em 1988, mantém laços estreitos com o cardeal. Seu filho, Paulo Celso Fontão, médico e autor do livro “Um Coração para Amar”, que narra a história da mãe — hoje em processo de beatificação —, lembra que ela sempre teve um carinho especial pelos pais de Orani.

Quando ele foi ordenado sacerdote, em 1974, convidou minha mãe para ser sua madrinha”, conta Paulo. “Foi ali que ela disse que ele seria bispo e papa.” A profecia ganhou força a cada novo passo na carreira do religioso: sua ordenação como bispo (1997), arcebispo de Belém (2004), do Rio de Janeiro (2009) e, finalmente, cardeal (2014).

Raízes que Nunca se Perderam

Mesmo com os altos cargos, Dom Orani nunca se distanciou de suas origens. “Ele sempre manteve um vínculo com nossa família e com a comunidade”, afirma Paulo. Maria de Lourdes, filha de Dona Lourdinha, reforça: “Ele é como um irmão mais velho em nossas lutas.

A professora guarda memórias afetivas, como o casamento celebrado por Dom Orani e o batismo de seus três filhos. Quando ele foi nomeado cardeal, ela e outros familiares viajaram a Roma para a cerimônia. “Havia pessoas de várias religiões. Ele sempre buscou unir, não dividir”, relata.

O Legado de Dona Lourdinha

Além de influenciar Dom Orani, Dona Lourdinha deixou marcas em outros religiosos, como o abade Paulo Demartini, do mosteiro onde Tempesta iniciou sua vida monástica. “Devo a ela minha vocação”, afirma Demartini. “Ela era generosa, usava seu salário de aposentada para ajudar os pobres.

Para Paulo Fontão, os ideais da mãe também o guiaram na medicina, especialmente no atendimento a pessoas em situação de rua. “Sempre busquei aliar ciência e espiritualidade, inspirado no papa Francisco e nos valores que ela me passou.

Enquanto o mundo aguarda o próximo conclave, a história de Dom Orani Tempesta e Dona Lourdinha ressoa como um testemunho de fé, humildade e laços que transcendem o tempo. Quem sabe, afinal, se a profecia da professora ainda se cumprirá por completo?

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