6 de junho de 2025
Artigo

Ecofeminismo em prol dos Direitos e do Combate à Violência de Gênero

Imagem reprodução

O horror do espetáculo do feminicídio exibido diariamente nos jornais de todo mundo, amiúde, mormente, no mês do dia internacional das mulheres, demonstra que, cada vez mais, as motivações torpes para violações sexuais e/ou mutilações físicas de mulheres das mais diferentes economias sul ou norte globais, tornam-se mais macabras. Para além de uma clássica questão de desejo de autoafirmação masculina realizada através de difamações, preconceitos explícitos ou velados, e estupros individuais e coletivos, o que temos visto, nos últimos tempos, é uma verdadeira expiação do corpo feminino como se fosse mero despacho de um ritual de sacrifício antimatriarcado.

Essa imagem nos remete ao fato que, ao longo da história, o poder e saber natural femininos das mulheres anciãs, curandeiras, feiticeiras ou rainhas conselheiras eram personificados na forma de ninfas, fadas, espíritos da floresta e deusas. Julia Myara nos mostra quais foram os mecanismos de esquecimentos, estigmatizações e satanizações dessas grandes figuras arquetípicas femininas, resgatando as narrativas mítico-religiosas. Ao lançar luz sobre as “Deusas, bruxas e feiticeiras” é possível perceber como a cultura, história e papéis de gênero forjou uma representação maligna da consciência do sagrado feminino ao longo da história ocidental.

A atual conjuntura estrutural de caças as bruxas contemporâneas fazem pensar que não se trata mais de crimes passionais, mas, sim animais, animalescos e que o feminicídio não é mais só expressão da violência gratuita, mas, sim, da virulência epidêmica. Os homens parecem reagir em bloco a uma sensação de falso risco iminente de extinção do patriarcado e da figura do macho alfa, o que é, paradoxalmente, catalisada pela maior punibilidade de duas práticas tóxicas antifeminina e nisso têm alguma vantagem sobre as mulheres.

Sem necessidade de reuniões teóricas de engajamento coletivo, pois que receberam a herança de anos de prática supremacista falocêntrica, os H maiúsculos musculosos atuam, em sua maioria, de forma pseudosilentes através de códigos iniciáticos que reproduzem o machismo e a misoginia de forma subliminar na resenha depois do futebol, nas madrugadas regadas às bebidas alcóolicas em distribuidores de bebidas, grupos de whats app besteiróis de amigos de infância ou escola. Enquanto o feminismo requer uma atitude e esforço mental para obter consenso, o machismo requer só uma pulsão instintiva primitiva de clã totêmico para se perpetuar.

Em tempos do desamor sólido e do direito líquido imperfeito, temos que reinventar o feminismo com menos ismos e mais ecologia. O movimento ecofeminista tem atuado pela defesa do meio ambiente, ou seja, de todos os seres vivos e inorgânicos, como parte indissociada do feminismo, mesmo que muitos associem, erroneamente, feminilidade do sagrado feminino à imagem estigmatizada de passividade do cuidado maternal e da mãe-natureza. A história recente, no entanto, mostra que a natureza, em função das mudanças climáticas, pode ser violenta e que, assim como, existe racismo ambiental, podemos dizer que existe um machismo ambiental também.

As mulheres carregam cruzes, chagas e karmas, mas também luzes, chacras e almas. Trazem no seu elã vital a latência de uma sacralidade natural, naturalmente, anticapitalista, mesmo que, individualmente, nem queiram lutar contra esse sistema econômico ou serem feministas, o que dirá ecofeministas. O pressuposto que seguimos é o de que o ecofeminismo combina transhumanismo e sustentabilidade do meio ambiente em nível local, com possibilidade de soluções inovadoras no relacionamento entre sociedade, natureza e amor. Afinal, temos que defender todos os seres e não seres, (trans)homens e (trans)mulheres, Joaninhas e Joanas Darks.

 

Fred Le Blue Assis (Grupo Poder EcoFeminino)

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