Casos de crianças com sintomas severos de esgotamento mental, incluindo crises de ansiedade, agressividade e automutilação, têm se tornado frequentes nos consultórios médicos e clínicas psiquiátricas do país. Um dos casos emblemáticos ocorreu em 2023, quando um menino de 11 anos foi internado com diagnóstico de “burnout digital” após passar mais de nove horas diárias em frente a celulares e tablets.
O fenômeno, longe de ser uma exceção, reflete um novo padrão de adoecimento infantil associado ao uso excessivo de telas. De acordo com a pediatra Dra. Mariana Costa, “Estamos atendendo crianças cada vez mais jovens, muitas de seis a dez anos, com sintomas que antes eram raros nessa faixa etária, como insônia severa, impulsividade e dificuldades extremas de regulação emocional”.
Evidências Científicas
Um estudo publicado na revista Gemma Pediatrics em 2021 já apontava que o uso diário de dispositivos eletrônicos por crianças está associado a alterações na estrutura cerebral. A pesquisa identificou o afinamento do córtex pré-frontal, região fundamental para funções executivas, como raciocínio crítico, tomada de decisões e linguagem.
“Essas alterações neurológicas podem explicar a explosão de diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ansiedade e baixo rendimento escolar. O cérebro em desenvolvimento está literalmente sendo modificado por essa exposição precoce e prolongada”, explica o neuropediatra Dr. Rafael Lima.
Responsabilidade e Conscientização
Especialistas apontam que a raiz do problema vai além da tecnologia e recai sobre a terceirização da parentalidade. “Muitos pais utilizam as telas como babás eletrônicas, substituindo o vínculo familiar e a educação emocional por horas de conteúdo digital. O resultado são crianças que não aprenderam a lidar com frustrações e desenvolvem uma dependência perigosa”, analisa a psicóloga educacional Ana Silva.
O alerta é para que famílias, escolas e sociedade reavaliem urgentemente a relação das crianças com a tecnologia, estabelecendo limites claros e priorizando o convívio e as brincadeiras offline para evitar danos irreversíveis ao desenvolvimento cognitivo e emocional das novas gerações.
