Medida busca evitar manifestações durante análise de processos contra Bolsonaro e aliados; segurança do 7 de Setembro também é alvo de atenção.
O Exército brasileiro determinou veto a aglomerações e atos públicos nas proximidades de unidades militares em meio ao julgamento do núcleo crucial do plano de golpe de Estado, que começa nesta terça-feira (2) no Supremo Tribunal Federal (STF). A ordem repassada aos comandos de área é de tolerância zero com eventuais manifestações, em um momento de extrema sensibilidade para as Forças Armadas.
O período do julgamento coincide com as preparações para o 7 de Setembro, data tradicionalmente marcada por manifestações patrióticas e políticas. Desta vez, as celebrações ocorrerão enquanto a Primeira Turma do STF analisa processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e principais aliados militares acusados de articular um golpe para mantê-lo no poder.
Em Brasília, as manifestações devem se concentrar na região da Torre de TV, distante tanto dos quartéis quanto da Praça dos Três Poderes, segundo o planejamento das autoridades. Oficiais, sob reserva, avaliam que é improvável a ocorrência de atos no entorno dos quartéis. Um dos fatores citados é o posicionamento do Alto Comando do Exército, que ao longo das investigações rechaçou publicamente a ideia de um plano golpista – postura que desagradou setores bolsonaristas.
Coordenação de segurança
O Comando Militar do Planalto (CMP) e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal têm realizado reuniões permanentes para coordenar a segurança durante o julgamento e no Dia da Independência. O objetivo é evitar repetir os episódios de acampamentos bolsonaristas em frente a quartéis, que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Integrantes da cúpula do Exército admitem, em off, que foi um “erro” permitir a permanência desses acampamentos, mas argumentam que o “ambiente político” da época, com Bolsonaro ainda na Presidência, impediu uma ação mais enérgica.
Julgamento de militares
O processo é particularmente sensível para as Forças Armadas devido ao número de militares envolvidos. Entre os réus estão Bolsonaro, que é capitão da reserva; o tenente-coronel Mauro Cid, que se tornou delator da trama; três generais de quatro estrelas: Augusto Heleno (ex-GSI), Paulo Sérgio Nogueira (ex-Defesa) e Walter Braga Netto (ex-Casa Civil); e o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha.
Em meio à tensão, oficiais repetem o discurso do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, de que é “preciso separar o CPF do CNPJ” – punir maus indivíduos enquanto se preserva a instituição.
A estratégia das Forças Armadas, agora, é isolar possíveis focos de agitação e demonstrar estrita adesão à legalidade, enquanto a Justiça decide o destino de alguns de seus membros mais graduados.