Lábia, promessas de dinheiro fácil e uma dose de engenhosidade. Por mais condenáveis que sejam, os crimes virtuais têm se tornado cada vez mais sofisticados — e, na maioria das vezes, dispensam qualquer habilidade técnica para acontecer. O que impera, na verdade, é a chamada engenharia social, que se aproveita da boa fé das vítimas e das fragilidades da comunicação digital para aplicar golpes que, só em 2024, já causaram um prejuízo estimado de R$ 3,5 bilhões, segundo estudo da plataforma OLX.
De acordo com o especialista em cibersegurança Claudio Claro, ouvido pelo Hoje Goiás, a prática de engenharia social consiste em convencer a vítima, por meio de manipulação psicológica, a realizar ações prejudiciais a si própria — como fornecer dados sensíveis ou até mesmo enviar produtos antes de receber qualquer pagamento.
“Vai desde se passar por outra pessoa para conseguir dados como CPF, número de cartão ou senhas, até convencer alguém a entregar um produto sem receber nada em troca”, explica o especialista.
O ambiente digital de compra e venda, especialmente em plataformas como OLX, Enjoei, Facebook Marketplace e afins, tem sido o cenário perfeito para esse tipo de abordagem. E os golpes mais comuns já têm até nome: o falso pagamento, em que o golpista finge ter transferido o valor e envia comprovantes falsos; ou o anúncio fraudulento, no qual uma oferta imperdível esconde uma venda que jamais existiu.
A estudante Amanda Pedatella, de 19 anos, moradora de Aparecida de Goiânia, foi uma das pessoas que sentiram esse tipo de tentativa de golpe na pele. Ao anunciar um console de videogame usado, se deparou com diversos “interessados”, todos com discursos muito parecidos.
“O mais comum era pedir pra continuar a conversa no WhatsApp. Aí vinham com e-mails falsos, cheios de logos de empresas como se fossem oficiais, dizendo que o pagamento já estava feito, mas que eu precisava tirar o anúncio do ar e mandar o produto por conta própria”, relatou Amanda.
Segundo ela, alguns supostos compradores chegavam até a sugerir que um motorista de aplicativo passaria para buscar o item, sem que ela tivesse recebido nada. “Não foram um ou dois, parecia até orquestrado. As histórias eram muito parecidas”, contou.
O que chama atenção, como aponta Claudio Claro, é que muitos desses golpes não exigem conhecimento técnico aprofundado, como invasão de sistemas ou programação. Tudo gira em torno da capacidade de enganar, criar uma história convincente e agir com rapidez antes que a vítima desconfie.
Para evitar cair nesse tipo de armadilha, a recomendação é simples, mas crucial: nunca enviar produtos ou compartilhar dados sem a confirmação de que o pagamento foi de fato realizado e compensado na conta. Também é importante desconfiar de urgências, ofertas boas demais e qualquer tentativa de tirar a negociação da plataforma oficial.
Em tempos em que o virtual se confunde com o real, o golpe está cada vez mais ao alcance de um clique — e o único antivírus eficiente, muitas vezes, é a desconfiança.