Procedimento experimental, feito em parceria com universidade dos EUA, usa estimulação cerebral profunda para controlar compulsão alimentar; paciente de 158 kg é o primeiro a participar do estudo
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) realizou nesta terça-feira (18) uma cirurgia pioneira no Brasil: a estimulação cerebral profunda para tratamento de obesidade mórbida. O paciente, Ivan dos Santos Araújo, 38 anos, pesava 158 kg e lutava contra a doença desde a infância. O procedimento, ainda em fase experimental, implantou eletrodos no núcleo accumbens — região do cérebro associada à recompensa e à compulsão alimentar.
Um longo caminho até a cirurgia
Ivan, morador de Goiânia, começou a ganhar peso aos 9 anos. Mesmo com acompanhamento de nutricionistas e endocrinologistas, o quadro se agravou após um acidente em 2015 que limitou sua mobilidade. “A obesidade atrapalha tudo: andar, trabalhar, viver”, relatou ao Metrópoles. Ele admitiu receio inicial por ser um método novo, mas decidiu participar após esclarecimentos da equipe médica.
Como funciona a técnica?
Coordenada pelo neurocirurgião Osvaldo Vilela, a pesquisa avalia se a estimulação elétrica bilateral no cérebro pode reduzir a compulsão por comida. O método — ainda não disponível no SUS — já é usado para Parkinson e depressão, mas sua aplicação contra obesidade é recente. Quatro outros pacientes passarão pelo mesmo procedimento no HC-UFG, todos monitorados por dois anos por especialistas em neurocirurgia e endocrinologia.
Parceria internacional
O projeto tem colaboração da Universidade da Pensilvânia (EUA), integrante da Ivy League, onde o pesquisador Casey Halpern conduz estudo semelhante. “Decidimos unir esforços para avançar na compreensão desse tratamento”, explicou Vilela.
Esperança para casos graves
Se comprovada eficácia, a técnica pode oferecer alternativa a pacientes que não respondem a cirurgias bariátricas ou tratamentos convencionais. Enquanto aguarda os primeiros resultados, Ivan vê a oportunidade como um recomeço: “Quero ter qualidade de vida de volta”.