Dados recentes de pesquisas internacionais mostram uma queda consistente no consumo de álcool entre jovens nos Estados Unidos, Reino Unido e outros países desenvolvidos. No Brasil, porém, embora haja sinais de redução no consumo regular, o abuso de bebidas alcoólicas entre jovens adultos ainda preocupa especialistas.
Queda no consumo entre jovens no exterior.
Nos EUA, um estudo da Gallup (2023) revela que 62% dos adultos de 18 a 35 anos consomem álcool, uma queda de 10 pontos percentuais em relação a duas décadas atrás. No Reino Unido, pesquisa da Mintel (2023) aponta que um terço dos jovens de 18 a 24 anos não bebem, enquanto os que consomem associam o hábito a ocasiões especiais.
A geração Z americana também está bebendo menos cerveja e vinho, preferindo opções como hard seltzers (bebidas alcoólicas gaseificadas). Globalmente, a OMS registrou queda no consumo entre adolescentes (15 a 19 anos) – de 26% em 2016 para 22% em 2019.
E no Brasil?
Aqui, os dados são menos claros. A pesquisa Covitel (2023) mostrou que o consumo regular (três ou mais vezes por semana) caiu entre jovens de 18 a 24 anos – de 10,7% antes da pandemia para 8,1% em 2023.
No entanto, o consumo abusivo (cinco ou mais doses em uma ocasião) aumentou nessa mesma faixa etária – de 25,8% em 2022 para 32,6% em 2023. Nos EUA, esse índice é bem menor: apenas 6,9% dos jovens de 18 a 25 anos relatam beber em excesso.

Diferenças regionais e políticas públicas
Enquanto o Norte do Brasil registrou queda no consumo abusivo (de 18,3% em 2010 para 16,4% em 2023), o Centro-Oeste e o Sul tiveram aumento. Especialistas apontam que políticas mais rígidas nos EUA – como maior fiscalização e taxação – podem explicar a diferença.
“É pior consumir seis doses de uma vez do que distribuir ao longo da semana”, afirma Mariana Thibes, socióloga do CISA. Já Luciana Sardinha, da Vital Strategies, defende que o Brasil precisa de medidas mais duras para frear o abuso de álcool.
Saúde mental e acesso à informação.
Talita Di Santi, psiquiatra da USP, destaca que países com menor consumo investem mais em saúde mental e prevenção. “Os jovens hoje têm mais informação sobre os riscos do álcool”, diz.
Enquanto o mundo desenvolvido caminha para menos consumo entre jovens, o Brasil ainda enfrenta desafios – especialmente com o aumento do abuso na faixa de 25 a 34 anos (29,8% em 2023).
Fica a questão: o país seguirá a tendência global ou manterá sua relação complexa com o álcool?