3 de outubro de 2025
Artigo

MARGINAL BOTA-ÁGUA: Goiânia, a cidade perdida?

Fred Le Blue Assis, idealizador do GYN 2030, doutor em Planejamento Urbano.

Goiânia enfrenta 135 pontos críticos de alagamento mapeados pela Defesa Civil, pois são diversos os pontos principais de deficiências da drenagem urbana que favorecem os alagamentos. A Marginal Botafogo, recentemente, tornou-se o local mais preocupante, em função do risco de deslizamentos do asfalto, apesar de que as cheias dos córregos já se tornaram uma lenda urbana contemporânea. No grande alagamento no início do ano, desmoronou uma parte do muro de contenção da calha, obrigando a ser interditado o trecho próximo à Avenida Fued Sebba. O sentido sul-norte da marginal, no trecho próximo à Avenida Jamel Cecílio, também foi fechado na época. Outro ponto que causou grandes transtornos foi o Viaduto Mauro Borges, na Avenida A com a Avenida E, no Jardim Goiás, onde houve também interdição parcial da via. Além disso, costumam ter problemas de drenagem urbana crônicos a Avenida 87 no Setor Sul e nos setores Vila Roriz, Vila São José, Serra Azul, Mirabel e Gentil Meireles, que sempre merecem atenção especial da Prefeitura de Goiânia e da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra), com operações de limpeza de materiais sólidos que entopem as bocas de lobo.

As várias áreas sujeitas a alagamentos sofrem com falhas ou faltas da rede coletora de água da chuva, por conta de bueiros ausentes, desproporcionais ou obstruídos. Nesse sentido, o básico do planejamento urbano, em matéria de drenagem urbana, não tem sido seguido, que é: implantar áreas verdes naturais (não gramas sintéticas) públicas e privadas, além de um serviço de limpeza diário, que inclua a defesa da educação e conscientização ambiental para que a população colabore com a reciclagem, economia reversa, lixo zero e descarte correto dos resíduos sólidos. É preciso, além de manter a limpeza urbana, evidentemente, conservar a rede de drenagem e contenção, ampliando as áreas de recarga. Além disso, em prol do bem-estar urbano e ambiental, podem ser utilizadas técnicas e sistemas de infraestrutura verde, como jardins de chuva, bacias de infiltração e trincheiras de infiltração. Estas estruturas coletam, armazenam e permitem a infiltração da água da chuva diretamente no solo, reduzindo o escoamento superficial, diminuindo a carga sobre os sistemas tradicionais e minimizando inundações e erosão.

Os desafios para integrar novas obras de drenagem, se possível, baseadas nas recomendações do Plano Diretor de Drenagem Urbana (ainda em fase de finalização), com o crescimento urbano acelerado da cidade, passam, na verdade, por revisitar, criticamente, o Plano Diretor da Gestão Rogério Cruz, no tocante à sua condescendência com o adensamento urbano, mediante a possibilidade do uso de instrumentos como outorga onerosa do direito de construir. Esse arcabouço legal permite aumentar a área construída de uma edificação, por meio do pagamento de uma contrapartida financeira para o Estado, para além do ecologicamente recomendado, diminuindo os espaços reservados para o paisagismo natural, que favoreceria a drenagem urbana. Para impedir que áreas privadas não respeitem os limites padrões da construção civil na cidade, o Plano Diretor de Goiânia deve, então, ser passado a limpo sob a égide do desenvolvimento sustentável e do futuro Plano Diretor de Drenagem Urbana, que já mapeou e fotografou para diagnósticas os pontos de estrangulamentos favoráveis aos alagamentos hoje ou futuramente, e apontará os prognósticos com soluções emergenciais e preventivas.

Todas as áreas verdes, inclusive as gramas orgânicas, são recipientes naturais de água, que favorecem sua melhor infiltração e fluidez no solo, favorecendo um ciclo hidrológico mais equilibrado, o que permite a nutrição do solo e liquefação da água da chuva. Além de favorecerem mais a drenagem urbana do que a grama sintética, elas realizam fotossíntese, roubando gás carbono da atmosfera, contribuindo para o microclima e minorando o aquecimento global. Mesmo que se possam ser feitas perfurações nas gramas sintéticas para que a água possa escorrer para o solo, quando submetidas a chuvas rigorosas, podem não dar vazão à contento, contribuindo para alagamentos, ou até mesmo serem varridas pela água, como aconteceu na Castelo Branco, após essas brabas chuvas de setembro, cujos transtornos poderiam ter sido evitados, se Goiânia não estivesse perdida em termos de gestão urbana e a Marginal Botafogo não tivesse há tempos sendo social e ambientalmente marginalizada pelo poder público e população civil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *