6 de dezembro de 2025
Artigo

MARGINAL BOTA-ÁGUA: Goiânia, a cidade perdida? (Parte 3)

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Fred Le Blue Assis, idealizador do GYN 2030, doutor em Planejamento Urbano

A proposta de implantar cancelas automáticas nas vias de Goiânia, com risco de alagamentos, caso sejam efetivadas, deverá ser acionada pela área da Defesa Civil, que, em interface com um novo radar meteorológico, vai permitir dar um tempo de resposta mais rápido nessas regiões de risco, o que pode evitar ou reduzir danos e sinistros causados pelas enchentes. Novamente, vemos o prefeito prometendo milagres, como fez com sua grama sintética voadora, que não resistiu nem mesmo à primeira enxurrada. Ocorre que essa solução é apenas parcial, tendo impacto expressivo para o fluxo normal de trânsito em áreas urbanas, já caótico, mesmo em dias solares, ainda mais na Av. 87 e Marginal Botafogo, que são alternativas de trajeto para desafogar retenções de veículos na Praça do Ratinho e Shopping Flamboyant, respectivamente.
A interdição de vias em períodos de chuva, mesmo que prudentes, certamente afetará a mobilidade urbana da população, sobretudo em horários de pico, podendo aumentar os congestionamentos e acidentes de trânsito. Isso porque apenas fechar vias sem indicar caminhos alternativos pode causar outros transtornos, como desviar veículos para áreas alagadas sem cancelas, até porque a logística dessas propaladas cancelas ficará a cargo da Defesa Civil, que é uma instituição alheia à Engenharia de Trânsito.
Dessa forma, fica a impressão de que será apertado um botão na sala de comando e as cancelas serão fechadas, podendo até causar acidentes por carros que não perceberem a iminência do fechamento. Talvez seja mais interessante reconhecer que o projeto da Marginal Botafogo foi um equívoco, interditar por tempo indeterminado para realizar um plebiscito para construção de um parque linear pedestre ou reforma completa da via para o fluxo de veículos com segurança e sustentabilidade no local, que deixaria de ser um não-lugar, propenso a acidentes, desastres e drogadições.
Em todo caso, seria mais prudente a opção de cancelas manuais que pudessem ser acionadas por agentes de trânsito, como ocorre aos domingos com o Minhocão em São Paulo. Todas as noites e no domingo, o dia todo, para liberar o elevado para atividades de lazer público. Assim, esses servidores públicos poderiam ter uma função diferente da de somente multar a população. Ainda assim, os pedestres poderiam desrespeitar o equipamento e seguir passando pelo local comprometido.

Uma opção mais econômica, inclusive para a Av. 87 e ruas adjacentes ao Clube dos Oficiais, poderia ser o uso de placas de trânsito fixas, conforme previsto pela legislação de trânsito, alertando sobre riscos de alagamentos em determinados trechos em períodos, como ocorre nas imediações do SESC Pompéia em São Paulo. Mas, se quiser investir mesmo, como parece gostar Mabel, a prefeitura poderia criar um aplicativo virtual tipo Waze que sugerisse rotas alternativas para os motoristas, em caso de congestionamento e risco de alagamentos.
Na verdade, penso que investimentos em educação de trânsito já poderiam surtir grande efeito, ainda mais se acompanhados de noções de geografia e cartografia urbana. Há pessoas em Goiânia que não conseguem andar nem mesmo no traçado cartesiano e icônico do Centro. Conhecer o labirinto da cidade com suas passagens secretas pode permitir a cada condutor criar roteiros de translados únicos. Não há por que todos passarem por avenidas ou convergirem para a Praça Cívica. As pessoas deveriam ser treinadas para realizar um planejamento de seu deslocamento de trânsito antes de pegar o carro ou moto. Cada vez mais, ainda mais em períodos chuvosos, isso pode garantir sua pontualidade e até mesmo sua vida.

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