7 de setembro de 2025
Polícia

Megoperações desarticulam esquema bilionário do PCC no mercado financeiro

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PF, Receita Federal e MP-SP deflagram ações para combater organização criminosa que lavava dinheiro por meio de fintechs, postos de gasolina e fundos de investimento da Faria Lima. Prejuízo estimado é de R$ 8,67 bilhões em sonegação.

Nesta quinta-feira (28/8), uma força-tarefa composta pela Polícia Federal (PF), Receita Federal e Ministério Público de São Paulo (MP-SP) deflagrou três operações integradas contra um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio supostamente comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). As operações, batizadas de Carbono Oculto, Quasar e Tank, representam, nas palavras do governo, “a maior resposta do Estado brasileiro ao crime organizado de nossa história”.

O alvo central das investigações é a infiltração da facção criminosa no coração do sistema financeiro nacional. De acordo com as autoridades, o PCC utilizava uma complexa rede que envolvia importação e venda adulterada de combustíveis, lavagem de dinheiro por meio de postos de gasolina e estabelecimentos comerciais, e a blindagem final do patrimônio por meio de fundos de investimento sediados na avenida Faria Lima, em São Paulo.

Foram expedidos 14 mandados de prisão, mas, até o início da tarde, apenas seis pessoas haviam sido capturadas.

O Modus Operandi em Quatro Etapas

Conforme detalhado pelas autoridades, o esquema funcionava em quatro fases distintas:

  1. Sonegação em Postos de Combustível: Importadoras financiadas pelo PCC compravam combustível no exterior. O produto era vendido em uma rede de aproximadamente mil postos controlados pela facção em dez estados. Nesses locais, ocorria a sonegação massiva de impostos e a adulteração de combustíveis, especialmente gasolina. A Receita Federal estima um prejuízo de R$ 8,67 bilhões aos cofres públicos.

  2. Lavagem de Dinheiro do Tráfico: Os postos de gasolina e outros estabelecimentos, como padarias e lojas de conveniência, eram usados para “esquentar” e lavar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas, recebendo valores em espécie ou por máquinas de cartão, o que dificultava o rastreio.

  3. Ocultação por Meio de Fintechs: Nesta etapa, entravam em cena as instituições de pagamento, as fintechs. A investigação aponta que uma delas, o BK Bank, atuava como um “buraco negro” financeiro. Por meio de um mecanismo chamado “conta bolsão” – onde o dinheiro de todos os clientes é depositado em uma única conta –, a instituição misturava recursos ilícitos do PCC com valores de clientes legítimos, tornando o rastreio extremamente difícil. A fintech também era usada para pagar colaboradores e despesas pessoais dos líderes do esquema.

  4. Blindagem Patrimonial na Faria Lima: A fase final consistia em investir o dinheiro já lavado em 40 fundos de investimento supostamente controlados pela organização criminosa, muitos deles com endereço na avenida Faria Lima. Esses fundos, com um patrimônio estimado em R$ 30 bilhões, foram usados para adquirir bens de alto valor, incluindo 1,6 mil caminhões, um terminal portuário, quatro usinas de álcool, 100 imóveis (seis fazendas e uma mansão em Trancoso, na Bahia).

Alvos da Operação e Reações

Um dos alvos das buscas e apreensões foi a gestora de fundos Reag Investimentos, que, segundo seu site, administra um patrimônio de R$ 299 bilhões. Em nota, a empresa afirmou que “está colaborando integralmente com as autoridades” e que diversos fundos mencionados “nunca estiveram sob sua administração”. A empresa também destacou que fundos onde atuou como prestadora de serviço foram renunciados ou liquidados há meses.

Em entrevista coletiva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou a ação como “exemplar” por ter conseguido “chegar na cobertura do sistema, no andar de cima do sistema”. Ele anunciou que, a partir de sexta-feira (29/8), as fintechs terão de cumprir as mesmas obrigações dos grandes bancos para aumentar o poder de fiscalização da Receita.

A subsecretária da Receita Federal, Andrea Chaves, alertou para o grau de infiltração do crime. “Percebemos uma invasão do crime organizado na economia real e no mercado financeiro”, disse. Ela também vinculou o caso à polêmica das “fake news” sobre uma instrução normativa da Receita que previa maior controle sobre fintechs, revogada sob pressão popular no início do ano. “A gente acaba perdendo poder de fazer análise de risco para identificar com mais rapidez e eficiência esquemas como esse”, afirmou.

Apesar do foco na Faria Lima, Chaves ressaltou que a maior parte dos fundos do mercado é legítima e que a operação identificou especificamente 40 fundos ligados ao crime.

O presidente Lula e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, reforçaram em suas redes sociais a magnitude histórica das operações conjuntas no combate ao crime organizado.

Colaboraram Marina Rossi e Mariana Alvim

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