25 de abril de 2025
Polícia

Popularidade de Lula despenca historicamente e preocupa José Dirceu.

.A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro — descrita como um “tombo histórico” pelo ex-presidente do PT, José Dirceu — causou preocupação no Palácio do Planalto e no partido.

Um dos aspectos que mais inquietam o governo é o impacto dessa piora no Nordeste, região historicamente favorável ao PT desde 2006 e a única onde Lula superou Jair Bolsonaro em 2022. José Dirceu, figura influente do PT e ex-ministro de Lula, escreveu na Folha de S.Paulo que “a popularidade do governo sofreu um tombo histórico no meio do terceiro mandato do presidente”, citando dados da Quaest.

“O mais relevante: algumas das maiores quedas de aprovação ocorreram entre os mais pobres, moradores do Nordeste e mulheres, segmentos fundamentais para a vitória de Lula contra Jair Bolsonaro em 2022”, acrescentou.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), afirmou ao jornal O Globo que o apoio do Nordeste a Lula não está assegurado para 2026. Ela defendeu maior presença do governo na região e atenção aos investimentos necessários para atender às expectativas da população.

O Hoje Goiás consultou analistas políticos e eleitores nordestinos para entender o descontentamento crescente com o governo. O principal fator identificado foi a redução do poder de compra da população, impulsionada pela inflação, especialmente dos alimentos, e pelo aumento de tributos, como a taxação das importações implementada em julho, conhecida como “taxa das blusinhas”.

Especialistas também destacam a dificuldade do governo em dialogar com trabalhadores informais e pequenos empreendedores, grupos numerosos no Nordeste, que registra a maior taxa de desemprego do país — 8,7% no terceiro trimestre de 2024, contra 6,4% da média nacional, segundo o IBGE.

Monalisa Torres, cientista política e professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE), observa que o eleitor nordestino que apoia Lula o faz pelos resultados sociais e econômicos de seus primeiros governos, e não necessariamente por afinidade com as ideias progressistas da esquerda.

Atualmente, no entanto, Torres aponta dificuldades para Lula repetir o desempenho do passado, mencionando desafios como a disputa com o Congresso pelo controle do Orçamento, após a expansão das emendas parlamentares.

“Havia muita expectativa em um governo que já entregou muito no passado, mas que agora, apesar das promessas, não consegue apresentar os mesmos resultados. Isso gera frustração e impacta a avaliação”, analisa.

Ela também destaca a polêmica recente envolvendo o Pix como fator que pode ter influenciado na queda de popularidade de Lula. No início do ano, a Receita Federal ampliou o monitoramento de transações via Pix e cartão de crédito para combater operações ilícitas. A mudança obrigava todas as instituições financeiras a reportar movimentações acima de R$ 5 mil mensais para pessoas físicas e R$ 15 mil para empresas.

Embora o monitoramento já existisse em bancos tradicionais, a medida foi interpretada como uma ameaça à população. Lideranças bolsonaristas, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), espalharam a falsa informação de que o governo poderia taxar o Pix, um meio de pagamento gratuito amplamente utilizado.

O impacto da desinformação foi tão grande que o governo recuou da ampliação do monitoramento. Torres acredita que houve uma falha na comunicação do governo em esclarecer a medida, agravada pelo descontentamento já existente devido à taxação das importações online.

Nikolas Ferreira associou as duas medidas em um vídeo viral, afirmando: “O Pix não será taxado. Mas é bom lembrar que a comprinha da China não seria taxada e foi”, ironizou o deputado.

Reações da população

Morador de Camalaú, Paraíba, Marcos Farias, de 21 anos, votou em Lula em 2022 influenciado pela memória dos benefícios sociais dos primeiros governos do petista. No entanto, ele sente no bolso o impacto da “taxa das blusinhas” e da alta dos impostos.

“Eu votei no Lula e confesso que estou insatisfeito com o governo, em parte por conta dos impostos altos. Nunca um governo faturou tanto e cobrou tanto da população”, critica.

Estudante do curso técnico de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Farias era um consumidor frequente de produtos importados da China antes da taxação. Ele relata que, entre 2021 e 2023, comprou 38 itens no AliExpress, como peças de computador e acessórios, mas desde julho de 2024 só fez duas compras devido ao aumento dos preços.

A taxação das importações atendeu a uma demanda de varejistas brasileiros, que alegavam concorrência desleal com produtos estrangeiros sem tributação. A proposta veio do Congresso, mas foi sancionada pelo governo Lula.

Com as novas regras, produtos de até US$ 50 passaram a ser taxados em 20%, enquanto compras acima desse valor têm tributações de até 60%. Além disso, o ICMS sobre importações online, atualmente em 17%, subirá para 20% em abril.

Farias lamenta que os produtos nacionais não oferecem a mesma qualidade por preços similares. “Antes eu comprava um teclado AULA-F75 por R$ 300. Agora, custa cerca de R$ 860, e mesmo em promoção fica por volta de R$ 600”, exemplifica.

O economista Pedro Menezes, do jornal baiano A Tarde, destaca que a taxação afetou pequenos negócios e trabalhadores informais, numerosos no Nordeste. “Era justo tributar essas importações, mas a alíquota poderia ter sido menor”, avalia.

Incerteza sobre 2026

Farias também reclama da qualidade do curso no Instituto Federal da Paraíba, onde a falta de professores impacta a formação dos alunos. Ele entende que isso reflete cortes orçamentários do governo Bolsonaro, mas esperava uma recuperação mais rápida no governo Lula.

Apesar da insatisfação, ele ainda não descarta votar em Lula em 2026, mas afirma que dependerá dos concorrentes. “Estou passando por uma gestão ruim agora, mas tive uma boa experiência na infância. Dependeria de quem seria o adversário”, pondera.

O advogado Yago Pereira da Silva, de São Lourenço da Mata (PE), compartilha sentimento semelhante. Ele elogia as políticas sociais do passado, mas reclama da alta inflação, especialmente de alimentos.

“O café subiu muito, arroz e feijão também. Hoje eu não votaria em Lula, mas esperaria para tirar uma conclusão mais próxima da eleição”, diz.

Respostas do governo

O governo Lula prometeu medidas para conter a inflação dos alimentos, mas enfrenta desafios devido a fatores climáticos e variações de preços globais. Para melhorar a comunicação, houve mudanças na Secretaria de Comunicação Social da Presidência.

Dentro dessa estratégia, o governo lançou um vídeo de Lula usando um boné azul com a frase “O Brasil é dos Brasileiros”, em resposta aos bonés vermelhos usados por bolsonaristas com o slogan “Make America Great Again”.

A oposição reagiu rapidamente, com parlamentares bolsonaristas exibindo bonés verde-amarelos com a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026” e segurando pacotes de café e picanha durante a abertura do Congresso.

O Nordeste foi crucial para a vitória de Lula, que obteve 69,3% dos votos na região. No entanto, a pesquisa Quaest de janeiro revelou que a avaliação negativa do presidente superou a positiva pela primeira vez desde 2023, com a reprovação subindo para 49% e a aprovação caindo para 52%.

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