24 de maio de 2025
Justiça

CNJ abre processo disciplinar contra magistradas do TJGO por impedirem aborto legal de adolescente estuprada

CNJ afasta juíza responsável por decisão que impediu menina de 13 anos de fazer aborto legal (Foto: Gil Ferreira – Agência CNJ)

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu, por unanimidade na última sexta-feira (16), instaurar Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra a juíza Maria do Socorro de Sousa Afonso, do 1º Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, e a desembargadora Doraci Lamar Rosa da Silva Andrade, ambas do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO). As magistradas são responsáveis por decisões que negaram o direito ao aborto legal a uma menina de 13 anos, vítima de estupro, em 2024. A juíza Maria do Socorro foi afastada cautelarmente do cargo até a conclusão do processo.

O caso

A adolescente, grávida de 18 semanas após ser violentada, teve seu direito ao aborto legal – previsto em lei para casos de estupro – inicialmente negado pelo sistema de Justiça goiano:

  • Hospital recusou o procedimento e exigiu autorização paterna;

  • pai da vítima entrou com ação para impedir a interrupção;

  • juíza Maria do Socorro autorizou o aborto apenas sob a condição de que médicos preservassem a vida do feto (submetendo a adolescente a uma cesariana);

  • desembargadora Doraci suspendeu qualquer procedimento até julgamento definitivo.

O caso foi resolvido apenas após intervenção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, em julho de 2024, garantiu o direito da adolescente por meio de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO).

Repercussão e PAD

O processo no CNJ foi aberto a pedido da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), que denunciou violação de direitos fundamentais. Em nota, Vitor Albuquerque, secretário da ABJD em Goiás, destacou:

“O afastamento da juíza se mostra medida importante, principalmente por já ter demonstrado parcialidade em casos de aborto legal.” O CNJ vem respondendo a violações de direitos praticadas sob pretexto religioso, ainda que o problema seja estrutural”.

Contexto

O caso expôs tensões entre garantias legais e interpretações judiciais influenciadas por convicções pessoais:

  • agressor foi indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo MP-GO, mas o processo corre em segredo de Justiça;

  • Decisões como as das magistradas são recurrentes, segundo entidades de direitos humanos, que apontam a “revitimização” de crianças e adolescentes vulneráveis pelo Estado.

Próximos passos: O PAD analisará possíveis infrações éticas das magistradas. Enquanto isso, o STJ mantém jurisprudência favorável ao aborto legal em casos de estupro, conforme decisão da então presidente Maria Thereza de Assis.

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