Fundador da Igreja Casa dos Milagres, em São Gonçalo (RJ), Henrique Santini, 30 anos, oferecia “kit de bênçãos” e cursos de prosperidade. Justiça negou prisão preventiva e determinou uso de tornozeleira eletrônica.
Que sorte termos tantos “ungidos” dispostos a facilitar o acesso ao divino! Em vez de ir direto a Deus, basta baixar um áudio no WhatsApp. E o melhor: Deus agora aceita Pix (Segundo eles). Quem diria que a salvação da alma caberia num combo promocional com direito a kit de bênçãos e curso de prosperidade?
E eis que surge mais um empreendedor da fé, especialista em converter esperança em dividendos. Sua fórmula é infalível: pegue orações genéricas, embale como produto personalizado e cobre por bênçãos com garantia de entrega imediata — desde que o PagSeguro aprove a transação. O céu, afinal, também tem taxa de conversão.
O pastor Henrique Santini, de 30 anos, foi denunciado por estelionato religioso nesta quarta-feira (24). Líder da Igreja Casa dos Milagres, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, ele é acusado de integrar um esquema que movimentou cerca de R$ 3 milhões em dois anos por meio da venda de supostos milagres, “kits de bênçãos” e cursos online de prosperidade.
De acordo com a Polícia Civil, o pastor mantinha uma estrutura de call center onde atendentes enviavam, via WhatsApp, áudios previamente gravados por Santini como se fossem orações personalizadas para cada fiel. O pagamento era realizado via Pix. A Promotoria pediu a prisão preventiva do religioso, mas a Justiça decidiu pela liberdade com monitoramento eletrônico.
Com quase 8 milhões de seguidores no Instagram, Santini se autointitula “profeta” e afirma, em suas pregações, receber mensagens divinas para áreas como saúde, finanças e vida familiar. Em suas lives, ele alegava que algumas doenças eram “enfermidades espirituais” não detectáveis em exames médicos.
Além das orações, o esquema comercializava o “kit de bênçãos” por R$ 220 e cursos de prosperidade. Santini também é autor do livro “A Maldição dos Pés para Trás”, vendido online por R$ 19,90, no qual critica líderes religiosos que cobram por serviços espirituais, afirmando que a libertação deveria ser gratuita. Em suas redes sociais, o pastor defende-se, alegando ser vítima de perseguição religiosa.