25 de abril de 2025
Brasil

Brasil fica fora da lista de contatos do chefe da diplomacia americana

Nos primeiros 45 dias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, o secretário de Estado, Marco Rubio, manteve conversas telefônicas ou encontros presenciais com representantes de pelo menos 58 países. No entanto, o Brasil ficou de fora dessa lista, sendo uma das duas únicas economias do G20 — ao lado da África do Sul — que não tiveram contato com o chefe da diplomacia americana.

Desde a posse de Trump, Rubio dialogou com representantes de dez países das Américas, incluindo Canadá, México, Argentina, Costa Rica, El Salvador, Guiana, Jamaica, Panamá, República Dominicana e Venezuela. No caso venezuelano, o contato foi com o opositor Edmundo González, reconhecido pelos EUA como presidente legítimo do país.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, enviou uma carta a Rubio em janeiro parabenizando-o pela nomeação, mas até o momento os dois não tiveram nenhuma conversa direta. Paralelamente, o Brasil tem sido citado com frequência por Trump em questões comerciais, especialmente em relação às tarifas sobre produtos americanos, como o etanol.

Além da ausência de diálogos diretos, as relações entre os dois países passaram por um episódio de tensão diplomática. Na semana passada, o Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental, uma divisão do Departamento de Estado, publicou nas redes sociais uma crítica ao Brasil.

“Bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com os valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão”, escreveu o escritório no X (antigo Twitter).

Em resposta, o Itamaraty emitiu uma nota oficial refutando a afirmação e acusando os EUA de distorcerem decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre exigências legais para as big techs que operam no Brasil.

“O governo brasileiro rejeita, com firmeza, qualquer tentativa de politizar decisões judiciais e ressalta a importância do respeito ao princípio republicano da independência dos poderes, contemplado na Constituição Federal de 1988”, declarou o Itamaraty.

A lista de contatos de Rubio nos primeiros 45 dias de gestão incluiu autoridades de 21 países europeus, 19 asiáticos, seis africanos e dois da Oceania. Entre os países latino-americanos, o Brasil foi um dos poucos a não receber atenção direta do Departamento de Estado.

Segundo fontes diplomáticas brasileiras, a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, está conduzindo esforços para estreitar os laços com o governo dos EUA. No entanto, o Itamaraty avalia que questões diplomáticas, como a deportação de brasileiros em voos precários, têm sido resolvidas sem a necessidade de envolvimento de autoridades de alto escalão.

A expectativa era que Mauro Vieira e Marco Rubio pudessem se encontrar durante a reunião de chanceleres do G20 em Joanesburgo, na África do Sul, em fevereiro. No entanto, Rubio não compareceu ao evento e os EUA foram representados apenas pela encarregada de negócios da embaixada americana.

Uma fonte diplomática, sob condição de anonimato, avaliou que a ausência de atenção dos EUA ao Brasil pode ser vantajosa. Segundo essa fonte, mesmo aliados históricos de Washington, como Canadá e países europeus, têm sido tratados de forma agressiva pelo governo Trump. Dessa forma, a ausência de uma linha direta com Rubio poderia significar um menor desgaste diplomático para o Brasil.

 

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